Seminário debate conectividade sustentável na Amazônia e destaca soberania digital dos povos da floresta
Primeira edição do evento antecipa debates relevantes no contexto da realização da Cop 30, em Belém
A conectividade sustentável e os desafios da inclusão digital na Amazônia foram temas centrais do seminário “Internet & Meio Ambiente”, promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) nos dias 24 e 25 de fevereiro, em correalização com o Centro Popular de Comunicação e Audiovisual (CPA). O evento, que aconteceu em formato híbrido, contou com cerca de 500 participantes, entre público presencial e online, e reuniu especialistas, pesquisadores, representantes de povos indígenas e lideranças comunitárias para discutir os impactos da infraestrutura digital no meio ambiente e o acesso equitativo à internet na região.
A mesa de abertura contou com a participação de Jéssica Botelho, coordenadora do CPA, que ressaltou a importância de se considerar os modos de vida amazônicos no desenvolvimento de políticas para conectividade, citando a iniciativa da Carta de Recomendações para Políticas Digitais na Amazônia. “A Amazônia não pode ser apenas um território que recebe tecnologias externas, mas sim protagonista na construção de soluções digitais que respeitem nossas realidades socioculturais”, afirmou.
O CPA também esteve representado no painel “Tecnologias e comunidade – A soberania digital na Amazônia”, que abordou o papel das comunidades tradicionais na construção de infraestruturas digitais próprias e na defesa de uma internet acessível, segura e alinhada às necessidades locais. O debate reforçou a necessidade de ampliar iniciativas que garantam não apenas conectividade, mas também autonomia sobre os dados e narrativas amazônicas.
A diversidade da Amazônia esteve fortemente representada no evento, com a presença de lideranças indígenas e comunitárias, pesquisadores e ativistas de diferentes territórios da região. Essa participação evidenciou a complexidade dos desafios enfrentados para garantir uma conectividade sustentável e inclusiva, que respeite os direitos dos povos da floresta e os limites ecológicos do bioma.
A participação de Belmira Baré, liderança da Associação da Comunidade Indígena Bom Jesus (AICBJ), trouxe reflexões profundas sobre os impactos da conectividade nas comunidades indígenas, especialmente entre os jovens. Durante sua fala, ela destacou as consequências pós-conectividade, evidenciando que a implementação de projetos de internet via satélites de baixa órbita, muitas vezes pensados para um período determinado e sem planejamento de longo prazo, gerou desafios sociais graves. Entre os efeitos mencionados, Belmira relatou casos de jovens indígenas que, atraídos pela possibilidade de conexão, deixaram suas comunidades para ir até a cidade de São Gabriel da Cachoeira, onde algumas jovens acabaram se prostituindo em troca de aparelhos celulares e acesso à internet.
Além disso, ela alertou para a vulnerabilidade de outros jovens, que chegam a furtar dispositivos móveis para se manterem conectados. Seu depoimento reforçou a necessidade de discutir não apenas o acesso à internet, mas também as suas implicações sociais, culturais e econômicas, garantindo que a conectividade seja planejada de forma responsável e alinhada às necessidades e à proteção das comunidades indígenas.
Outra participação de destaque no evento foi a de Terezinha Brito, integrante do C-Partes e criadora do podcast Amazônias Conectadas. Representando a juventude na governança da internet, Terezinha trouxe reflexões fundamentais sobre inclusão digital na região e a necessidade de pensar a conectividade de forma sustentável e alinhada às realidades amazônicas. Seu podcast, Amazônias Conectadas, se dedica a explorar a interseção entre Internet e Sustentabilidade, abordando como a conectividade impacta populações historicamente desconectadas e os desafios da implementação de redes comunitárias na Amazônia, a possibilidade de infraestruturas digitais autônomas para comunidades não atendidas e a necessidade de que a expansão da internet na região seja pensada a partir de critérios sustentáveis.
O projeto também reflete as recomendações do CPA Amazônia, reunidas na Carta de Recomendações de Políticas Digitais para a Amazônia, e acompanha as discussões do C-Partes sobre governança digital e justiça climática. Com o avanço do colapso climático, queimadas, secas e outros desafios ambientais, iniciativas como o Amazônias Conectadas são fundamentais para trazer luz às relações entre conectividade, preservação ambiental e futuros sustentáveis para a floresta. O podcast está disponível no Spotify e pode ser acessado aqui: Amazônias Conectadas.
O evento foi considerado um sucesso e reafirmou a urgência de um debate contínuo sobre governança digital, inclusão e sustentabilidade na Amazônia. Os painéis e discussões estão disponíveis no YouTube do NIC.br, permitindo que mais pessoas tenham acesso aos conteúdos e reflexões trazidas pelos participantes.
🔗 Assista aos debates na íntegra: YouTube do NIC.br
🔗 Veja as fotos do evento: https://flic.kr/s/aHBqjC3Tmu